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    Participantes de projeto educativo conhecem biodiversidade do Cerrado

    Seis crianças e adolescentes de diferentes regiões brasileiras conheceram, nesta sexta-feira (27), um pouco da biodiversidade do Cerrado fora dos livros, em uma experiência imersiva no Jardim Botânico de Brasília (JBB). Na trilha ecológica, um guia profissional apresentou a fauna e a flora do bioma em sementes, nascentes e curso d’água, pequenos animais, como um tatu, e árvores típicas aos jovens e a seus professores. Todos viajaram a Brasília a convite da Embaixada da França no Brasil, por serem vencedores do programa FrancEcolab Brasil 2023.

    O objetivo do programa é despertar jovens e educadores brasileiros para a importância da preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável do planeta. Os ganhadores da terceira edição do projeto foram apelidados de ecocidadãos pelos organizadores da iniciativa por contribuírem para a melhoria e conservação do planeta para as gerações futuras. 

    Durante a caminhada de 1,8 quilômetro (km) pela Trilha Krahô do JBB (nome que homenageia o povo indígena de Tocantins), estudantes e professores revelaram que a educação ambiental, aos poucos, tem promovido mudanças na vida de deles, como a redução de consumo, o reúso de alguns recursos, a reciclagem de produtos e o combate ao desperdício. Com isso, muitos dizem que se tornaram mais conscientes do papel individual que têm. 

    Maria Clara Soares, aluna do 5º ano da Escola Municipal Anísio Teixeira de Niterói, no Rio de Janeiro, descobriu-se como multiplicadora de conhecimentos. “Minha visão mudou, e sei que a gente tem que reciclar mais e tentar economizar recursos para preservar espécies de plantas e animais. Agora, tenho repassado esse projeto para as outras turmas da minha escola.”

    A estudante amazonense Andrya destaca importância da preservação das florestas – Marcelo Camargo/Agência Brasil

    Andrya Pietra Sousa de Jesus, que está no primeiro ano do ensino médio de uma escola pública de Manaus e é uma das ganhadoras do FrancEcolab Brasil, lembrou que, neste ano, presenciou por alguns dias o céu manauara tomado pela fumaça de queimadas na Floresta Amazônica. Ao participar do programa, Andrya disse que passou a valorizar mais a natureza que cerca a cidade onde vive. “Aprendi a importância de preservarmos nossas florestas, a importância de ter um convívio melhor com o meio ambiente. A gente precisa da floresta, precisa da Mata Atlântica, da Amazônia, do Cerrado, do Pampa, para viver. Mas as pessoas não estão dando tanta importância a isso e consideram a cidade como mais importante, como se isso fosse a solução de tudo.”

    Sua professora na Escola José Carlos Mestrinho, a francesa Kadidiatou Sow, que vive há um ano no Brasil, disse que já tinha consciência ambiental ao reciclar o lixo doméstico, mas ficou surpresa com pessoas jogando lixo no chão, com o uso abusivo de plástico e com a falta de educação ambiental mesmo para quem vive a Amazônia brasileira. A professora de língua estrangeira destacou, porém, que oficinas, visitas de especialistas e material de apoio oferecido pelo programa já contribuem para mudar a realidade de docentes e de alunos. “Percebi que eles saíram desse projeto com mais conhecimento. E acho que o mais importante é educar nossas crianças, porque eles são o futuro, e são eles que irão incentivar e ser parte dessa mudança de que precisamos tanto.”

    Vinda de Macapá, a professora Flávia de Jesus dos Santos Pontes informou que a Escola Estadual Professora Marly Maria e Souza Silva foi premiada nas duas primeiras edições do programa. Em 2023, o projeto vencedor, o livro A Onça-Pintada Jussara e Seus Amigos contra O Terror das Matas, foi confeccionado com material reciclável, sementes de fruta e de legumes, como abóboras. Flávia percebeu uma mudança de consciência dos alunos a partir dessa experiência. “Fizemos a reciclagem de materiais para elaborar o livrinho do projeto e, então, eles aprenderam questões de preservação e de reciclagem para que não joguem lixo no chão, separem o lixo, como papel, plástico e vidros. Vamos trabalhando tudo isso com eles em sala de aula.” 

    Na visita à capital federal, o estudante do primeiro ano do ensino médio do Colégio Liceu Franco-Brasileiro do Rio de Janeiro João Vitor Lopes ajudou a plantar mudas de ipê amarelo no Jardim Botânico.  Para João Vitor, o planeta ainda tem jeito, mas o FrancEcolab Brasil despertou nele um senso de urgência para reverter processos de degradação ambiental. “Entendi que a situação precisa ser mudada agora, porque pode ser que não tenhamos tempo para isso. Então, nós, os adolescentes e as crianças, somos responsáveis por essa mudança. Sem nós, realmente não vai ter como efetivamente salvar as florestas do Brasil. Procuro sempre desenvolver práticas sabidamente boas para o meio ambiente, como a reciclagem, no colégio, em casa e no meu prédio.” 

    A mineira Sofia fez pequenas mudanças, como fechar a torneira ao escovar os dentes – Marcelo Camargo/Agência Brasil

    Pequenas mudanças de hábitos, como fechar a torneira ao lavar os cabelos compridos e escovar os dentes, foram adotadas pela Sofia Diniz, estudante do 8º ano do ensino fundamental de Contagem, em Minas Gerais, desde que começou a participar do projeto francês. Agora, Sofia tenta influenciar os familiares para ter rotinas mais ecológicas e sustentáveis.  

    “Se continuarmos no estágio em que estamos, teremos a ebulição global e não vai haver mais espécies de plantas, não vai ter mais oxigênio necessário para a gente sobreviver ou conseguir ter uma vida estável e boa também”, teme Sofia. 

    O professor Brian Diniz Amorim disse que aprecia o protagonismo jovem na busca de soluções para problemas que impactam a humanidade. “Como professor, vejo que conseguimos propiciar aos alunos a oportunidade de pensar a nível científico em problemas muito complexos e buscar uma solução própria deles para esses problemas, em que eles são os protagonistas para a solução.”

    “Volta e meia, nos deparamos com desafios muito imponentes, e os alunos, por meio da mobilização de todos os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos de escolarização, têm possibilidade de pensar em uma solução para um problema muito complexo”, acrescenta Brian Amorim, professor na escola de Sofia. 

    O FrancEcolab Brasil é interdisciplinar e, por isso, puderam participar do programa, professores de diversas disciplinas, além do francês. No Liceu Franco-Brasileiro, do Rio, a professora Heloísa Helena Leal Azevedo revelou que esse envolvimento maior contagiou toda a escola e acirrou a disputa interna para participar do programa. “É uma guerra. E a gente tem que educar os alunos para que eles possam saber preservar o que nós temos. E os professores também passam por essa educação. Depois que participam, acho que o conhecimento deles cresce muito.” 

    O diretor de Biodiversidade do Jardim Botânico de Brasília, Estevão do Nascimento Fernandes de Souza, que guiou os visitantes pela Trilha Krahô, quis tornar a experiência transformadora ao mostrar detalhes que costumam passar despercebidos no bioma do Cerrado. Souza aposta no potencial das crianças para proteger e respeitar o meio ambiente. “Fornecemos a educação de base e, assim, elas conseguem multiplicar esse conhecimento quando chegam em casa. E a gente vê que as crianças estão mais interessadas em entender. Elas perguntam mais e interagem mais com a gente.”

    FrancEcolab 

    Programa FrancEcolab foi criado há dois anos pela Embaixada da França no Brasil – Marcelo Camargo/Agência Brasil

    Criado em 2021 pela Embaixada da França no Brasil, o FrancEcolab é um programa educativo destinado a estudantes de escolas brasileiras públicas e privadas bilingues, com ensino de francês e português. 

    Nos dois anos anteriores foram abordados temas que envolviam a proteção dos oceanos e rios e o combate aos microplásticos. A terceira edição teve como tema As Florestas do Brasil: Preservar a Biodiversidade. De acordo com a Embaixada da França, em 2023, a iniciativa reuniu mais de mil estudantes, de 7 a 18 anos, dos ensinos fundamental e médio, de 57 escolas públicas e privadas de todo o Brasil, que participaram de oficinas, passeios, visitas a laboratórios, palestras e formação online e concursos ao longo deste ano. 

    A assessora de Cooperação Educacional da Embaixada francesa, Laura Le Mounier, explicou porque o foco do projeto está no público infantojuvenil. “O programa permite formar uma geração de ecocidadãos. Eles estão muito animados com esse tema. E é gratificante ver que estão modificando essas mentes, essas mentalidades para um olhar mais ambiental.” 

     “O futuro do planeta depende das gerações futuras, também porque eles são o público alvo, porque são muito mais abertos, muito mais facilmente conscientizados e logo vão conscientizar os pais e os adultos do entorno deles. Então, para mim, é uma ferramenta essencial para contribuir para evolução e conscientizar a população sobre as temáticas em favor da preservação do meio ambiente”, declarou Hélène Ducret, adida de Cooperação Educativa da Embaixada da França. 

    Nos três dias que marcam o encerramento desta edição, Hélène Ducret fez um balanço dos trabalhos realizados. “Percebemos o interesse de meninas e meninos, das famílias, das equipes pedagógicas e também dos responsáveis pelas escolas e secretarias de Educação. Para todos eles, agora, a educação em favor do meio ambiente se tornou uma necessidade. Então, o programa corresponde muito bem às necessidades que eles idealizaram para fomentar transformações dentro da escola. Há ainda efeito sobre a didática e a pedagogia. Os professores que participam dos projetos, agora, passaram a ter o costume de trabalhar juntos e gostam muito disso.” 

    Todos os projetos ganhadores do FrancEcolab 2023 serão conhecidos neste sábado (28), em uma cerimônia em Brasília, no Liceu francês François Mitterrand, às 11h.  

    Fonte: Agência Brasil

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