A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) lança hoje (18/09) uma chamada pública na qual convida Fundos de Investimentos em Participações (FIPs) do tipo capital semente/multiestratégia, em fase de captação ou já em fase de investimentos e que tenham foco em empresas de base científica e tecnológica (deeptechs), a apresentar propostas a serem avaliadas pela Fundação para eventual subscrição de cotas.
Um dos critérios para a FAPESP aportar recursos nos fundos selecionados é que valor equivalente ao investido pela Fundação seja alocado em empresas participantes ou egressas do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). A participação máxima da FAPESP será equivalente a até 15% do capital comprometido de cada fundo ou R$ 30 milhões, o que for menor.
“Estamos interessados em ouvir propostas de fundos de investimentos cujas teses sejam convergentes com a nossa, que é a de financiar empresas intensivas em tecnologia, sediadas no Estado de São Paulo”, diz Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP.
Desde que foi lançado pela FAPESP, em 1997, o Programa PIPE apoiou 1.871 empresas, sediadas em 167 cidades paulistas. Algumas delas desenvolveram tecnologias hoje exportadas para diversos países. “As empresas do PIPE enquadram-se na categoria de startups de base tecnológica. Nesse contexto, deveriam estar no radar de investidores de venture capital (capital de risco), que tipicamente investem nesses negócios, mas isso não ocorre”, diz Pacheco.
Uma das principais dificuldades enfrentadas por essas deeptechs para escalar mercado, identificada pela direção da FAPESP, é o acesso a outros instrumentos de financiamento e investidores que as ajudem a atravessar o “vale da morte” das startups – a fase que vai da abertura da empresa ao mercado até o momento em que o fluxo de caixa passa a ser positivo.
Uma pesquisa direta feita com empresas egressas do PIPE em abril de 2021 revelou que três quartos das respondentes não receberam qualquer aporte de capital. Dentre as empresas investidas, metade reportou aportes de capital-anjo [capital próprio de pessoas físicas dispostas a investir em empresas nascentes (as startups)]. Cerca de 20% declararam ter recebido recursos de outras empresas e um percentual similar reportou ter recebido investimentos de venture capital ou capital privado.
A fim de ajudar as startups paulistas a superar esse obstáculo, o Conselho Superior da FAPESP aprovou a diretriz de investir, nos próximos seis anos, R$ 150 milhões em novas iniciativas que visem diversificar o apoio às pequenas empresas inovadoras que tenham sido apoiadas pelo PIPE.
Entre as ações previstas estão também parcerias com plataformas de oferta online de títulos de empresas privadas a um grupo de pessoas para investimento e redes de investidores-anjo (investidores do capital-anjo); programas de aceleração e participação em fundo garantidor para tomada de crédito.
No âmbito de FIPs, além da chamada que está sendo lançada, a FAPESP aderiu recentemente aos fundos Criatec 4 e Indicator 2 IoT, patrocinados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com a participação de cotistas públicos e privados, nos quais aportará R$ 30 milhões em cada um por um período de quatro a cinco anos.
“Diferentemente da atuação tradicional da FAPESP no PIPE, em que são destinados recursos não reembolsáveis para apoiar exclusivamente a execução de pesquisa científica e tecnológica em pequenas empresas, as novas iniciativas proverão recursos financeiros que permitirão a essas empresas escalarem mercado”, diz Pacheco.
A FAPESP já participa, desde 2013, da iniciativa do Fundo Inovação Paulista (FIP), criado no mesmo ano em parceria com a Desenvolve São Paulo, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).
A participação da FAPESP no fundo é de R$ 10 milhões, em patrimônio total de R$ 105 milhões, mas teve grande influência na carteira das empresas investidas – mais de 50% foram participantes ou são egressas do PIPE.
A FAPESP também está analisando de que forma pode contribuir para o desenho e eventual aporte de recursos em instrumentos de garantia, especialmente os já existentes no Estado de São Paulo, que permitam apoiar as empresas do PIPE também na sua busca de crédito.
Outras iniciativas
Como complemento a essas iniciativas a FAPESP também fará em breve uma chamada para cadastrar plataformas de oferta online de títulos de empresas privadas e grupos de investidores-anjo.
“Essa parceria será feita por meio do programa PIPE Invest, no qual a FAPESP direciona recursos de fomento de até R$ 1,5 milhão para projetos de pesquisa em contrapartida a recursos oriundos de rodadas de investimentos nessas duas modalidades”, afirma Marcio de Castro Silva Filho, diretor científico da Fundação.
A ideia é credenciar plataformas de oferta online de títulos de empresas privadas e grupos de investidores-anjo interessados em realizar rodadas de investimentos para empresas financiadas pelo PIPE. Havendo o aporte, a empresa poderá submeter um projeto ao PIPE Invest e a FAPESP direcionará recursos a ela por meio dessa modalidade de apoio.
A FAPESP também fará o cadastramento de aceleradoras que tenham interesse em prestar serviços para empresas do PIPE, que receberão recursos financeiros para contratá-las. Hoje a Fundação já financia programas de aceleração em parceria com o Sebrae-SP e a Finep, que está em vias de lançar o edital para credenciamento de aceleradoras do Tecnova III.
Esta, porém, será uma primeira iniciativa exclusiva, na qual a FAPESP fará o cadastramento de aceleradoras com perfil para atendimento às deeptechs que compõem a carteira do PIPE, sublinha Castro.